
Bela Vista (MS)
Após esse processo, o café era transportado nos lombos das mulas para o porto do Rio de Janeiro, de onde era exportado. Mas o aumento da produção cafeeira e os lucros decorrentes dela levaram ao início do processo de modernização da economia e da sociedade brasileira.
Um dos exemplos mais marcantes dessa modernização esteve na construção de ferrovias para o transporte do café, o que aumentou a velocidade do transporte e interligou algumas regiões do Império, principalmente após a expansão das lavouras para as terras roxas localizadas no chamado Oeste paulista, intensificada após a década de 1860. Tal situação levou ainda ao fortalecimento do Porto de Santos como principal local de escoamento da produção.
Embarque do café no Porto de Santos, em fotografia de 1880 feita por Marc Ferrez (1843-1923)
Em 1836 e 1837, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o principal produto de exportação do Império. Os grandes latifundiários produtores de café, os chamados “Barões do café”, enriqueceram-se e garantiram o aumento da arrecadação por parte do Estado imperial.
Surgiram ainda os chamados comissários do café, homens que exerciam a função de intermediários entre os latifundiários e os exportadores. Além de controlarem a venda do produto, garantiam aos latifundiários acesso a créditos para a expansão da produção e também viabilizavam a compra de produtos importados.
O café foi, dessa forma, um dos principais esteios da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, além de prover inicialmente os capitais necessários ao processo de industrialização do país e criar as condições para o desenvolvimento do sistema bancário.
O Café nos tempos do império
Em meados do século XVII o Brasil passava pela crise da economia açucareira e em meados do século XVIII era o ciclo do ouro que se esvaia. Nesse período, por volta de 1750, o café já era considerado uma especiaria entre os consumidores europeus e, mais tarde, ganharia o público dos Estados Unidos.
As primeiras mudas foram plantadas no Pará, e de lá o cultivo foi descendo pelo território brasileiro até chegar no Rio de Janeiro onde se desenvolveu o plantio sistemático em meados de 1760.
A crise chegaria em meados do século XIX com o empobrecimento do solo, problemas hídricos e o fim da escravidão. Mas onde uns vêm problemas, outros vêm oportunidades. E assim a produção do café tomou o rumo do oeste paulista.
O Empreendedorismo dos cafeicultores
Os cafeicultores paulistas deram outra dinâmica à produção do café, incorporando a ele diferentes parcelas da economia capitalista vigente.
O empreendedorismo desses fazendeiros introduziu novas tecnologias e formas de plantio favoráveis a uma nova expansão cafeeira como: inspeção sistemáticas em lavouras, renovação de técnicas de plantio e manufaturas para confecção de sacas e roupas para os trabalhadores.
Muitos desses senhores do café investiam parte de seus lucros no mercado de ações e também se dedicavam a atividades comerciais urbanas e industriais.
Para suprir a falta de escravos, atraíram mão-de-obra de imigrantes europeus e recorreram a empréstimos bancários para financiar as futuras plantações.
No curto espaço de tempo em que o café se estabeleceu na região sudeste, foi suficiente para conter as constantes crises econômicas do primeiro reinado.
Além disso, essa nova dinâmica da economia do café trouxe investimento em infra-estrutura (estradas, ferrovias, rodovias, portos…) e modernização dos centros urbanos, contando com mais estabelecimentos comerciais, bancos, iluminação, telégrafos, um novo traçado das ruas, além da presença de bondes elétricos, em substituição aos de tração animal.
Sem sombra de dúvidas, à medida que o produto deixava de ser um artigo de luxo para se incorporar à cultura e ao consumo cotidiano das populações, o café impulsionava a dinâmica da economia interna e expandia as receitas das exportações do Brasil, contudo nada vem de graça e quanto mais os barões do café fomentavam o fluxo financeiro, mais o país ficava dependente desse produto, e é na velha república que a crise do café bate no Brasil, favorece os cafeicultores e cobra da população mais humilde.
O café na república
Nos anos 90 do século XIX o preço do café cai e isso diminui consideravelmente a entrada de libras. Esse cenário era cômodo para os cafeicultores que mantinham suas rendas preservadas. Se por um lado entrava menos libras, por outro entrava mais mil réis por libra, mas a sociedade continuava pagando mais caro pelos produtos manufaturados importados.
Brazão da República possui um ramo do café.Então o império caiu e a república nasceu. Com a abolição dos escravos e os imigrantes chegando ao Brasil, o governo criou uma expectativa da demanda por papel moeda infundada, pois esses imigrante e libertos não possuíam renda, então não aumentaram a necessidade de dinheiro em circulação.
Todo o investimento do governo acabou sendo um tiro no pé que aumentou a inflação e endividou o país.
Mas é o café?
O governo de Campos Sales foi altamente impopular, porém extremamente eficaz para salvar a economia do país com altos empréstimos, carência estendida para quitar débitos, corte de gastos e aumento de impostos. A retração do crescimento foi inevitável, mas os mil reis, a moeda nacional vigente na época, se valorizaram. Isso desagradou os cafeicultores e criou uma situação para o governo.
Com os Mil Réis valorizados os cafeicultores recebiam menos libras pelo produto, reduzindo suas margens de lucros. A situação piorou quando o preço do café caiu novamente no mercado internacional.